segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Diário dos Perplexos/Index Librorum Prohibitorum




Timeo hominem unius libri, temo o homem de um só livro, dizia o Doctor Angelicus. Dizia o S. Tomás, mas desdiz a prelatura da Opus Dei que, a crer no Diário de Notícias, ressuscita o defunto Index Librorum Prohibitorum e arrenega 33 573 livros. É obra! Na Literatura, dos últimos quinze prémios Nobel, só um sai escapo, sendo que os restantes têm setenta e duas obras proibidas. Nas Ciências Sociais são indexados muitos e variegados livros, mas vexados por pouco opudeísmo, em particular, os mestres da suspeita: Marx, Freud e Nietzsche. O corpus delgado da literatura portuguesa também não se livrou do flagelo e do cilício e, para além do vade retro já canónico ao Saramago (12 livros censurados), aparecem  67 obras de escritores portugueses, Eça incluído com grande merecimento. É obra!
Os censores do Index Librorum Prohibitorum não têm mãos a medir nem lápis para afiar, e aqui, justamente, é que a porca torce o rabo ou, para usar uma latinice mais do agrado dos opudeístas, hoc opus hic labor est. O furor editorial é tamanho, que do furor censório se há-de furtar muito livro ímpio a tentar o leitor pio com a letra de forma. O mês passado, por exemplo, o José Rodrigues dos Santos e duas flausinas da Casa dos Segredos publicaram livros pouquíssimo católicos e, que eu saiba, ainda não constam no Index Librorum Prohibitorum da Opus Dei. Sede pois zelosos, irmãos. Se no trabalho e na vida quotidiana é provável encontrar Deus, toda a gente sabe o que é certo encontrar em certos livros. E olhem que não é só no Devil's Dictionary do Bierce.

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